domingo, 24 de agosto de 2008

Rescaldo Olímpico

Sem ufanismos, Vinícius Torres Freire, na Folha de S.Paulo deste domingo (24/8), escreve uma análise precisa sobre o comportamento do torcedor nos Jogos Olímpicos:

"Considerem os nossos sucessos. O vôlei. Dependeu da riqueza do ABC e do interior paulistas, do bem-estar da região Sul, do patrocínio de empresas privadas, do bom nível educacional dos dirigentes, comissões técnicas e atletas (vide a gente horrorosa da cúpula do futebol). O judo se massificou por meio da classe média paulista. Mas tal massificação dependeu mais de gosto e competência do que de infra-estrutura (como caras piscinas e equipamentos para atletismo e ginastas)"

Em seguida, Torres Freire prossegue em uma tese bastante pertinente sobre o Brasil-sil-sil:
"Enfim, somos competitivos? Deixe-se de lado o "caráter nacional" ou o "complexo de vira-latas". Não temos é competição. O país é tão desigual que a competição de alto nível é, desculpem, baixa. Vide o "terrível funil do vestibular", as "dezenas" de candidatos por vaga. Os candidatos reais são os poucos que têm boa escola. Mesmo esses vão mal em testes internacionais. Em geral, estudantes ricos levam a vida na flauta, pois competem por vagas universitárias com colegas e escolas deploráveis.

É por isso que o Brasil, entre os BRICs, é o último. É por isso que o Brasil sempre será café-com-leite. Eis o legado de nossa miséria, nosso rescaldo olímpico

sábado, 23 de agosto de 2008

Ainda os Jogos Olímpicos


Agora falta pouco. Para a maioria dos brasileiros, duas semanas depois de madrugadas em claro, muita torcida, suor e lágrimas, os Jogos Olímpicos de Pequim alcançam a cerimônia de encerramento, que deve acontecer neste domingo, dia 24. O Brasil, depois de uma semana de muito choro, conseguiu ali e acolá algumas medalhas de prata e de ouro, para além do bronze. Resta uma chance, com o vôlei masculino, de obter mais um derradeiro ouro. Se isso acontecer, a delegação sairá dos jogos com 4 medalhas de ouro, 3 de prata e 9 de bronze. E, por terminar a participação com um ouro, talvez o fracasso das derrotas possa ser parcialmente, se não totalmente, apagado da memória seletiva dos nacionalismos midiáticos. Até porque não interessa a ninguém lembrar das amareladas de Diego Hipólito, Jade Barbosa, Daiane dos Santos na ginástica olímpica. Muito menos salientar a pífia apresentação, seguido de choro, de Jadel Gregório. Ou, ainda, da aposta furada em Thiago Pereira, de quem ninguém sequer ouviu falar durante as competições na piscina. Isso não interessa.


Já se o tema for futebol, bem, melhor colocar a culpa no Dunga, o bode expiatório da vez. A pergunta, no entanto, não quer calar: por que será que ninguém aponta a nudez do Rei: Ronaldinho Gaúcho é uma fraude ambulante, e isso está claro há pelo menos dois anos. Não se trata apenas de um atleta fora de forma, é um ex-jogador em atividade, uma espécie de zumbi, uma mistura de Mônica, de Maurício de Souza, com Predador, aquele personagem do filme. No livro Veneno Remédio, José Miguel Wisnik diz que os gols do atleta são peças do pós-modernismo. Agora entendo: é a repetição do vazio, da firula que engana o jogo eficiente, do riso que esconde a melancolia de um atleta que mais parece uma foca de circo. Futebol espetáculo? Só o espetáculo sem futebol.


De sua parte, a seleção feminina também decepcionou os cretinos fundamentais que queriam que a medalha da seleção de Marta fosse uma espécie de resposta ao futebol masculino. E, de fato, na bolsa de apostas do nacionalismo brasileiro nada nos tiraria aquela medalha de ouro. Ledo engano. As brasileiras têm aquele medo tão peculiar que assola os brasileiros, a falta de confiança que se confunde com arrogância de quem se considera o melhor do mundo sem ter conquistado nada. O que resta? Ora, aquela espécie de título moral, a mesma coisa de 1982 com a Tragédia do Sarriá, quando a Itália venceu por 3 x 2 a seleção de Telê e de Zico. Até hoje tem gente que não concorda com essa derrota e, pior, com o fato de ter sido uma seleção objetiva e competitiva, a de Parreira em 1994, a ter trazido o tetra. E depois em 2002 com o Felipão o coroamento desse futebol de resultados não poderia ter sido mais retumbante. Para a seleção brasileira de futebol feminino, falto algo desse elemento competitivo. Não se trata de vibração, garra, coragem ou talento. O que falta é a estabilidade moral que só os campeões possuem. Estabilidade essa que também poderia se estender aos demais atletas de outras modalidades.


Mas agora já passou. Ou quase. A seleção de volei feminino venceu a equipe norte-americana. Por que venceram? Ora, porque era possível ver que nada abalaria essa estabilidade, essa confiança que traz a serenidade dos campeões. Diferentemente de 2004, elas não sentiram a pressão, tampouco o complexo de inferioridade. Tanto assim que quando foram derrotadas no segundo set não houve aquela cara de terror, como no quadro O Grito, de Munch. A propósito, não foi essa a cara que Diego Hipólito fez ao cair?

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sobre o Brasil nas Olimpíadas

Há alguns anos, uma campanha do governo federal (ave, Lula) anunciava: "O melhor do Brasil é o Brasileiro". Era o ápice do ressurgimento do, digamos, "Orgulho Nacional". De repente, não mais que de repente, viramos brasileiros indeed, impulsionados não somente por um anúncio de publicitários filopetistas, mas, principalmente, por uma vontade de mostrar o Orgulho Brasileiro. A psicologia das massas, talvez, possa explicar a natureza desse fenômeno. Do lado de cá, este blogueiro arrisca, por sua vez, entender por que o Brasil fica mais brasileiro em tempos olímpicos.

Há, evidentemente, uma tentanção do brasileiro em se identificar com seus atletas. Não que estes estejam na agenda do dia, isto é, figurem como personagens centrais do imaginário do herói nacional da vez. Muito ao contrário. Em verdade, poucos tapuias diferenciam Daniele Hipolito de Jade Barbosa. Afinal, as duas são baixinhas e praticam o mesmo esporte --- muito embora Jade seja muito mais fotogência que sua parceira de equipe. Divago, eu sei, divago. Sigamos. ---Ainda assim, tal identificação acontece pelo fato de os atletas representarem um papel de loosers, de fragilizados, de homens e mulheres desfavorecidos em suas atividades. Para o brasileiro médio, nada mais motivador do que uma virada de mesa, como se, por superação, os atletas pudessem reverter o óbvio ululante: não contam, os esportistas tapuias, com preparação, talento e controle emocional adequado para concluir nas tarefas. E o resultado está aí: bronze como premiação máxima.

Desse modo, quando tal "zebra" acontece, os brasileiros se refestelam, se jactam, como pinto no lixo, numa catarse coletiva. E escrevo isso sem mencionar o "Brasil, sil, sil" que ecoa nos ao longo da transmissão da Rede Globo. O sucesso da emissora na cobertura dos jogos se dá, também, por isso. Em outras palavras, pouco importam os fatos, como que o Brasil vencerá, apenas, nos esportes coletivos "de sempre", como o futebol, o vôlei, vencendo adversários, muitas vezes, de talento absolutamente questionável (ou que a seleção do Dunga venceu a China e a Nova Zelândia). O que interessa, a esse brasileiro, é, sem dúvida, a vitória, o choro compulsivo e os agradecimentos aos céus. Em contrapartida, também a derrota tem, para esse tipo de telespectador-torcedor, um sabor especial. Qual seria? Ora, as lágrimas e o pedido de desculpas dos perdedores fazem bem a esse tipo de fã-acidental, que se sente mais aliviado, algo como "valeu pela tentativa". De certa forma, os brasileiros conseguem ver justiça nos jogos. Mas esse é um tema que está além das minhas capacidades de abstração.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

E se Paulo Coelho fosse Deus?

Subjugado em seu país por críticos e intelectuais (muitos deles pseudos), Paulo Coelho parece não ter medo, ou não se importar com nada.
Uma biografia (“O Mago”, de Fernando Morais), um novo livro (“O vencedor está só”) e uma boa (ótima) matéria na Rolling Stone Brasil. O Editor Chefe, Ricardo Franca Cruz, mais uma vez dá um baile nos Idiotas da Objetividade que tanto gosto de maldizer.

Não li todos os seus livros. Não sou fã incondicional, mas posso dizer que das obras que li (vão me xingar porque escrevi que são obras! Ai! Uma pedrada!), gostei. Se é falado em “falta de forma” na escrita do autor, eu coloco que, nesse caso, o que toca as pessoas é a simplicidade e a pureza dos conteúdos que ele abrange e, com eles, consegue trazer tantas semelhanças à tona...
A maioria das pessoas gosta de identificar-se com personagens em geral. É isso que vende. E o que importa se Paulo Coelho é seu maior marketeiro (ou vendedor)? Se Tufi Duek, por exemplo, cria um jeans, ele quer vende-lo, promover a marca e se promover, não é mesmo? Ora, os consumidores compram e não estão nem aí com quem estão ajudando e os fashionistas e outros criadores de jeans não ficam gritando que o Tufi faz isso por causa própria... Então, qual é o problema de ler Paulo Coelho e deixar que ele se torne cada vez mais... digamos... “rico”?

O que me faz pensar mesmo é a última frase da reportagem da RS de agosto. O autor pára o Editor e pergunta: “você acredita em Deus?”. E então eu me questiono em tom de sarcasmo: e se Paulo Coelho fosse Deus e estivesse fazendo um experimento sociológico com a sua criação?

Provavelmente os críticos e (pseudo) intelectuais estariam todos reprovados. Ou não.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Top 10 sinais de indelicadeza

Sim, a vulgaridade está por aí, disseminada tal qual um vírus de computador, tão comum quanto a poluição em Pequim, tão natural como um filme nacional com diálogo ruim. De fato, a vulgaridade está, talvez, mais em voga do que o investimento na bolsa de valores. E há quem diga, aqui e acolá, que a farra do crédito tem um pouco a ver com esse, digamos, excesso de vulgaridade. Este blog não quer salvar o mundo. Quer, tão-só, apresentar uma breve lista a fim de identificar a vulgaridade que anda à solta. Lembre-se: a vulgaridade está no ar.

1) Restaurante por quilo.

2) Utilizar o palito de dentes no restaurante por quilo.

3) Comentários sobre telenovelas como se estas fossem expressão da realidade.

4) Pessoas que acreditam no "cinema de arte".

5) Pessoas que prezam pela palavra "cultura".

6) Pessoas que falam em "conteúdo".

7)"Nome Próprio", o filme.

8) As praias de São Paulo.

9) Piercing no umbigo.

10) A palavra "balada".

Creio que os itens são auto-explicativos. Desse modo, seria indelicado dissertar a respeito.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Top 10 – Coisas as pessoas fazem e eu odeio

Texto auto-explicativo.

Para os (poucos) leitores: contribuam com as suas próprias listas. Aceito Top 5’s!


1. Odeio pessoas não-íntimas e não-amigas que vêm cumprimentar com aquele beijo babado no-jen-to e usam apelidos carinhosos;

2. Odeio quando alguém pergunta “você está irritada”, ou “você está nervosa”, ou outras coisas semelhantes;

3. Odeio pessoas gritando no celular (principalmente quando estou tentando me concentrar ou ouvir alguma coisa);

4. Odeio pessoas que conversam no cinema;

5. Odeio pessoas que puxam papo quando eu estou lendo;

6. Odeio as lesmas do trânsito;

7. Odeio os apressadinhos do trânsito;

8. Odeio quando alguém pega algo meu sem autorização e/ou não coloca no lugar;

9. Odeio aqueles que fazem perguntas cretinas e redundantes;

10. Odeio pessoas que falam sempre a mesma coisa.