sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Uma Pintura às Sextas - Flavio de Carvalho

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Uma Pintura às Sextas (depois de um recesso)

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Silvio Santos quer dinheiro. O seu dinheiro.


É isso, mesmo, leitor. Sílvio Santos quer dinheiro, o seu, o meu, o nosso. Quando eles falam "o governo", à moda de Rockfeller, eu já ponho a mão no talão de cheques. Ok, exagero, mas o fato é que o governo vai salvar o SS, conforme se lê em mais uma história permeada por boatos, cacos de informação e análise capenga. Nesse vuco-vuco de ruídos, o leitor, até o momento, sabe o essencial: Silvio Santos abriu mão de seu patrimônio para saldar a dívida. Eu já pensei em fazer isso. A diferença é que não tenho bilhões a perder. Já Silvio Santos abriu o cofre da joia da coroa. E isso não é pouca coisa.

Há alguns anos, antes de a emissora do Bispo Macedo entrar para o circuito comercial, Silvio Santos tinha planos. Disputava a audiência dominical, fazendo sangrar a TV Globo e sua hegemonia. Agora, isso parece muito remoto, mas o fato é que Silvio Santos conseguiu, aqui e ali, umas vitórias contra a Venus Platinada, a ponto de a emissora, em 2000, comandar uma espécie de desmanche junto ao SBT, trazendo nomes como Jô Soares, que à época contava com alguma reputação, e Serginho "Fala Garoto" Groisman. De 2004 para cá, à medida que a Record se consolidou, o SBT definhou, mas Silvio Santos parecia estável, administrando a sucessão de forma tranquila.

A fazenda, contudo, não estava tranquila. É claro que os analistas do mercado, os mesmos que não viram a crise chegar há dois anos, vão dizer: "eu avisei, eu avisei", mas o cenário em muito se assemelha à crise de 2008, quando o circuit breaker foi acionado. A diferença, talvez, seja o fato de o governo ter agido de forma cirúrgica, e só agora a mídia e a opinião pública estão tomando pé da situação. A propósito, existe até quem veja, nisso, alguma conexão com a guerra das versões, a propósito do já folclórico episódio da guerra das bolinhas. Mas aí já é conspiração demais.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Wall Street - o dinheiro nunca dorme

Oliver Stone é daqueles cineastas cujo nome nem sempre estará associado ao consenso. De um lado e de outro, público, crítica e até mesmo realizadores se dividem em torno da obra desse autor. Haverá quem diga que seus filmes pecam por exagerar no conteúdo político, deixando de se preocupar com os aspectos fílmicos. Em contrapartida, outros tantos salientam que os filmes de Stone merecem status de obra de arte, uma vez que é capaz de executar, com primazia, recursos vários em torno da narrativa. Nesse sentido, é inegável tratar da obra de Stone sem tomar um lado, especialmente quando o autor envereda por uma temática política. É o que o diretor fez no seu mais recente filme, "Wall Street - o dinheiro nunca dorme".

A fita é, como se sabe, continuação daquela outra, de 1987. Voltemos um pouco no tempo e no espaço. Os anos 1980, sacralizados no imaginário social, como a década perdida, tinha seu modelo de herói. Não se trata, aqui, dos seres dotados de poderes extraordinários, ou mesmo de homens que salvavam a nação, com moral elevada. O herói em questão é o modelo de sucesso da classe média estabelecida. Em "Wall Street - poder e cobiça", ele se personificava em Gordon Gekko, vivido por Michael Douglas no auge da forma. Como todo herói, ele professava um credo: "greed is good". Sim, a ganância é, com efeito, uma coisa boa. A felicidade não estava nas realizações que se podiam fazer para o outro; antes, residia na capacidade de acumular riqueza, assumindo o capitalismo não apenas como risco, mas como estilo de vida. A propaganda do cartão de crédito diria: para todas as outras coisas nós temos...

Em 2010, o cenário é certamente outro. Ninguém, em sã consciência, louvará em público que a ganância é boa. Somos recalcados demais para tanto. O bom, agora, é buscar a responsabilidade social, na cultura, no cotidiano, no banco. O anúncio publicitário diz: "nem parece que é banco". E nós, numa espécie de auto-engano, dizemos "tudo bem". Agora, o zeitgest estabelece: é preciso ser bom, não ganancioso ou competente, mas bom. Por isso, nossos preconceitos menos valorosos ou, pior, nossos instintos mais primitivos ficam escondidos. Em "Wall Street - o dinheiro nunca dorme", aprendemos que, agora, os bandidos não apenas são os financistas de Wall Street, mas, também, todos aqueles que decidem embarcar na aventura dos juros e da especulação. E, como diz um Gekko mais envelhecido, mas ainda assim bastante perspicaz: "a ganância não apenas é boa, mas é legal". Não encaramos que o que estamos fazendo esteja errado. Apenas fazemos, e não pensamos em nada.

A mensagem possível é: nesse mundo amoral, cuja moral é provisória (ou líquida), não basta apenas buscar os culpados. Se o objetivo, de fato, é mudar de estilo de vida, vai depender não somente do sistema, mas da mudança de comportamento. Consumistas como somos, talvez seja tarde para isso. É, a ganância é boa. Só não sabíamos que é viciante. E que seus efeitos são deletérios.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dois pitacos sobre a vitória de Dilma Rousseff

A essa altura, o leitor amigo já deve saber que Dilma Rousseff foi eleita presidente da República nas últimas eleições de 31 de outubro. Sobre o que será daqui para frente é melhor deixar para os futurólogos ou para os historiadores. É preciso observar que os resultados são excessivamente recentes para que se estabeleça uma análise fria, ou mesmo quente, dos fatos. Faltará precisão e sobrará impressão em qualquer análise determinista que se queira dar como "a verdade" ou, pior ainda, "a interpretação legítima" das eleições de outubro. Bom, se é para ser assim, por que escrever sobre as eleições? A resposta, estimado leitor, vem nos parágrafos a seguir.

Ocorre que as últimas eleições foram marcadas por um clima ímpar de acirramento do discurso. Trocando em miúdos, os militantes e, mais ainda, os protomilitantes na internet se refestalaram nos ataques ao longo do segundo turno e, pasmem, nas horas seguintes do resultado final. É como se, de fato, a caixa de pandora houvesse sido aberta, e os fantasmas, os medos e o terror do preconceito arraigado tivessem sido liberados de uma hora para outra. De repente, descobrimos, para o bem e para o mal, que a premissa da xenofobia não está tão longe assim do Brasil, país cuja dimensão é continental o suficiente para abarcar dois ou três países. Alguns analistas apressam-se a comentar que a tese de dois brasis não possui qualquer fundamento, sendo utilizada por sociólogos à cata de uma teoria que explica a eleição da candidata do PT. É preciso observar, no entanto, que essa agenda não foi disseminada por esse ou aquele partido, mas está aí, como na peça de Pirandello, à procura de um autor. Ninguém é pai da criança, mas existem falanges do ódio pronto a alimentar esse clima de horror.

Ok, alguns vão afirmar que exagero nas considerações. Talvez, sim. No entanto, é preciso ser um tanto mais alerta para questões que, de antemão, imaginávamos resolvidas. Se é verdade que o Brasil mudou, alguns grupos não necessariamente absorveram a mudança de forma tão esclarecida e tranquila assim. Há quem lute pelo reestabelecimento do que se poderia considerar "Antigo Regime". Desqualifica-los como conservadores ou reacionários é, simplesmente, não ter dimensão verdadeira das raízes do prencoceito de classe e de etnia. É, por demais, enxergar o Brasil como se fosse uma ilha, sem a tensão social que pode cindir o país, ainda que este cenário esteja, verdade seja dita, longe de acontecer.  Como presidente da República, Dilma Rousseff tem a missão de, para além de erradicar a pobreza absoluta, estabelecer um pacto social que seja aceito e respeitado não apenas pela nova classe média, mas, sobretudo, pela antiga classe média. De alguma forma, este grupo parece insatisfeito em dividir os bens de consumo (e de "cidadania privilegiada") com esse mais emergente.