sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Política, futebol, televisão: essas coisas


No dia em que o primeiro debate eleitoral para as eleições 2010 acontecia, a principal emissora de TV do País decidiu, anodinamente, exibir a partida entre São Paulo x Internacional pela Taça Santander Libertadores. Os mais curiosos devem se perguntar: ué, mas a Globo sempre exibe competições desse tipo. Por que, então, seria anódina a exibição. Eu, claro, explico: a grade horária da TV Globo exige que determinadas atrações tenham suas datas convenientemente articuladas com os seus interesses. Assim, às quartas-feiras, os jogos começam sempre às 21h50, depois da novela e do Jornal Nacional (melhor seria Telejornal Global). Do mesmo modo, aos domingos, as partidas se iniciam às 16h, e quando o horário de verão chega existe aquela mudança estratégica para os atletas não esturricarem sob o sol escaldante daquela época do ano. Mas, se vocês deixam, eu vou me perdendo do foco desse texto. Escrevo sobre o debate de ontem na TV Bandeirantes. Confiram a seguir.

A estratégia da TV Globo foi clara: uma vez que a TV Bandeirantes iniciou a rodada dos debates eleitorais com os principais candidatos, a emissora carioca, para esvaziar a concorrente, esvaziou o encontro político com o ludopédio. Nélson Rodrigues escreveu que a mais sórdida pelada é de uma complexidade shakesperiana. Imagine, então, uma semifinal entre São Paulo x Internacional. Está claro que foi ato deliberado, pensado estrategicamente, a fim de que o público não prestasse atenção no que ocorria na outra emissora. Nos telejornais, como sói aos absolutos, foi como se o debate político não tivesse acontecido. E tome Cléber Machado, com suas perguntas retóricas, no Jornal da Globo, para comentar a partida.

É evidente que a TV Globo conta com o direito de exibir os jogos se tem direito; da mesma forma, está claro que este não é o único debate a acontecer - estão previstos outros tantos, nas próximas semanas. Ocorre que a tática é um desserviço à democracia, uma vez que a atenção do público sempre estará voltada para esses assuntos, digamos, mais mundanos, e a política tende a perder de goleada quando ocorre esse tipo de concorrência desleal. No limite, é certo que o público sempre tem o direito de escolha. Todavia, não seria melhor se, em vez dessa estratégia de guerrilha, os telespectadores não fossem privilegiados pela concordância entre as TVs para que os debates não fossem furados pelos adversários? Aliás, nesse tipo de serviço público é correto essa disputa olho por olho? A gente sabe quem ganha com isso, com os chamados números do Ibope. Deveríamos nos lembrar de quem é o perdedor, o eleitor.