sábado, 23 de agosto de 2008

Ainda os Jogos Olímpicos


Agora falta pouco. Para a maioria dos brasileiros, duas semanas depois de madrugadas em claro, muita torcida, suor e lágrimas, os Jogos Olímpicos de Pequim alcançam a cerimônia de encerramento, que deve acontecer neste domingo, dia 24. O Brasil, depois de uma semana de muito choro, conseguiu ali e acolá algumas medalhas de prata e de ouro, para além do bronze. Resta uma chance, com o vôlei masculino, de obter mais um derradeiro ouro. Se isso acontecer, a delegação sairá dos jogos com 4 medalhas de ouro, 3 de prata e 9 de bronze. E, por terminar a participação com um ouro, talvez o fracasso das derrotas possa ser parcialmente, se não totalmente, apagado da memória seletiva dos nacionalismos midiáticos. Até porque não interessa a ninguém lembrar das amareladas de Diego Hipólito, Jade Barbosa, Daiane dos Santos na ginástica olímpica. Muito menos salientar a pífia apresentação, seguido de choro, de Jadel Gregório. Ou, ainda, da aposta furada em Thiago Pereira, de quem ninguém sequer ouviu falar durante as competições na piscina. Isso não interessa.


Já se o tema for futebol, bem, melhor colocar a culpa no Dunga, o bode expiatório da vez. A pergunta, no entanto, não quer calar: por que será que ninguém aponta a nudez do Rei: Ronaldinho Gaúcho é uma fraude ambulante, e isso está claro há pelo menos dois anos. Não se trata apenas de um atleta fora de forma, é um ex-jogador em atividade, uma espécie de zumbi, uma mistura de Mônica, de Maurício de Souza, com Predador, aquele personagem do filme. No livro Veneno Remédio, José Miguel Wisnik diz que os gols do atleta são peças do pós-modernismo. Agora entendo: é a repetição do vazio, da firula que engana o jogo eficiente, do riso que esconde a melancolia de um atleta que mais parece uma foca de circo. Futebol espetáculo? Só o espetáculo sem futebol.


De sua parte, a seleção feminina também decepcionou os cretinos fundamentais que queriam que a medalha da seleção de Marta fosse uma espécie de resposta ao futebol masculino. E, de fato, na bolsa de apostas do nacionalismo brasileiro nada nos tiraria aquela medalha de ouro. Ledo engano. As brasileiras têm aquele medo tão peculiar que assola os brasileiros, a falta de confiança que se confunde com arrogância de quem se considera o melhor do mundo sem ter conquistado nada. O que resta? Ora, aquela espécie de título moral, a mesma coisa de 1982 com a Tragédia do Sarriá, quando a Itália venceu por 3 x 2 a seleção de Telê e de Zico. Até hoje tem gente que não concorda com essa derrota e, pior, com o fato de ter sido uma seleção objetiva e competitiva, a de Parreira em 1994, a ter trazido o tetra. E depois em 2002 com o Felipão o coroamento desse futebol de resultados não poderia ter sido mais retumbante. Para a seleção brasileira de futebol feminino, falto algo desse elemento competitivo. Não se trata de vibração, garra, coragem ou talento. O que falta é a estabilidade moral que só os campeões possuem. Estabilidade essa que também poderia se estender aos demais atletas de outras modalidades.


Mas agora já passou. Ou quase. A seleção de volei feminino venceu a equipe norte-americana. Por que venceram? Ora, porque era possível ver que nada abalaria essa estabilidade, essa confiança que traz a serenidade dos campeões. Diferentemente de 2004, elas não sentiram a pressão, tampouco o complexo de inferioridade. Tanto assim que quando foram derrotadas no segundo set não houve aquela cara de terror, como no quadro O Grito, de Munch. A propósito, não foi essa a cara que Diego Hipólito fez ao cair?