quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Sobre o Brasil nas Olimpíadas

Há alguns anos, uma campanha do governo federal (ave, Lula) anunciava: "O melhor do Brasil é o Brasileiro". Era o ápice do ressurgimento do, digamos, "Orgulho Nacional". De repente, não mais que de repente, viramos brasileiros indeed, impulsionados não somente por um anúncio de publicitários filopetistas, mas, principalmente, por uma vontade de mostrar o Orgulho Brasileiro. A psicologia das massas, talvez, possa explicar a natureza desse fenômeno. Do lado de cá, este blogueiro arrisca, por sua vez, entender por que o Brasil fica mais brasileiro em tempos olímpicos.

Há, evidentemente, uma tentanção do brasileiro em se identificar com seus atletas. Não que estes estejam na agenda do dia, isto é, figurem como personagens centrais do imaginário do herói nacional da vez. Muito ao contrário. Em verdade, poucos tapuias diferenciam Daniele Hipolito de Jade Barbosa. Afinal, as duas são baixinhas e praticam o mesmo esporte --- muito embora Jade seja muito mais fotogência que sua parceira de equipe. Divago, eu sei, divago. Sigamos. ---Ainda assim, tal identificação acontece pelo fato de os atletas representarem um papel de loosers, de fragilizados, de homens e mulheres desfavorecidos em suas atividades. Para o brasileiro médio, nada mais motivador do que uma virada de mesa, como se, por superação, os atletas pudessem reverter o óbvio ululante: não contam, os esportistas tapuias, com preparação, talento e controle emocional adequado para concluir nas tarefas. E o resultado está aí: bronze como premiação máxima.

Desse modo, quando tal "zebra" acontece, os brasileiros se refestelam, se jactam, como pinto no lixo, numa catarse coletiva. E escrevo isso sem mencionar o "Brasil, sil, sil" que ecoa nos ao longo da transmissão da Rede Globo. O sucesso da emissora na cobertura dos jogos se dá, também, por isso. Em outras palavras, pouco importam os fatos, como que o Brasil vencerá, apenas, nos esportes coletivos "de sempre", como o futebol, o vôlei, vencendo adversários, muitas vezes, de talento absolutamente questionável (ou que a seleção do Dunga venceu a China e a Nova Zelândia). O que interessa, a esse brasileiro, é, sem dúvida, a vitória, o choro compulsivo e os agradecimentos aos céus. Em contrapartida, também a derrota tem, para esse tipo de telespectador-torcedor, um sabor especial. Qual seria? Ora, as lágrimas e o pedido de desculpas dos perdedores fazem bem a esse tipo de fã-acidental, que se sente mais aliviado, algo como "valeu pela tentativa". De certa forma, os brasileiros conseguem ver justiça nos jogos. Mas esse é um tema que está além das minhas capacidades de abstração.