sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Gustavo Corção

Gustavo Corção foi um dos principais escritores brasileiros. Um adendo à frase anterior. Foi um dos principais escritores, ainda que pouco lido pelo público e deixado de lado pela crítica. Uma pena. Seus textos --- claros, bem articulados e muito fundamentados --- demonstram erudição rara entre os pundits brasileiros. Por aqui, a propósito, faltam polemistas com substância, que efetivamente têm algo a dizer. Em contrapartida, são inúmeros os revoltados a favor, aqueles que ecoam o pensamento politicamente correto travestido de contestação. Risível, para dizer o mínimo.

Corção, por sua vez, é um pensador de palavra. Dominava vários assuntos e não temia, ao contrário de certa casta de prosadores do nosso tempo, escrever com talento, esbanjando forma e conteúdo. Ao mesmo tempo, não recuava perante as patrulhas do pensamento e, mesmo que fizesse uma análise contrária à corrente dos bem-pensantes, o escritor acusava, fundamentava e debatia com virulência, muito embora seu estilo fosse menos afeito ao embate direto, sendo, portanto, pontuado pela força das ideias.

Para os detratores de Corção, havia um tema que era quase como um prato cheio às bocas famintas das falanges do ódio, a saber: o escritor comungava de catolicismo num período em que a Igreja já não estava com seus índices de popularidade nas alturas. Mais do que isso: Corção se posicionou contra às teorias de vanguarda da Teologia da Libertação, e isso fez com que a opinião pública do esquerdismo virasse sua artilharia contra ele. Em certa medida, funcionou. A máquina de propaganda conseguiu obnubliar um dos autores mais articulados de sua geração.

Em tempo: a editora Global acaba de lançar uma seleta com as melhores crônicas de Corção. O trabalho conta com a organização e apresentação de Luiz Paulo Horta, crítico e membro da Academia Brasileira de Letras. Tal resgate poderia ser completado com a reedição da obra do autor, que, a não ser por algumas bibliotecas e sebos, desapareceu das livrarias.