segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Ilha do Medo, por Martin Scorcese


Assisti Ilha do Medo em fevereiro, à época em que a película estava em cartaz nos cinemas. Agora, vi que a fita chegou às locadoras. Creio que é oportuno ressaltar a relevância desse filme, tanto pelo significado fílmico quanto pela mensagem que a obra transmite.

Dirigido por Martin Scorcese, talvez um dos maiores --- senão o maior --- cineastas em atividade, o filme traz novamente Leonardo Di Caprio como protagonista de uma das obras do diretor de Taxi Driver e Touro Indomável. Assim, como em Os Infiltrados e Gangues de Nova York vemos Di Caprio mergulhar na densidade de suas personagens, aqui certamente mais "sujas" que as atuações da década de 1990, quando foi a estrela de Diários de um Adolescente e, vergonha alheia, Titanic. Não, não quero aqui afirmar que aqueles filmes não tinham lá sua beleza. Apenas constato que, de lá para cá, não apenas o mundo mudou, mas, ao que parece, Leonardo Di Caprio, que parece selecionar mais os filmes em que pretende atuar, como que numa assinatura de seu trabalho como ator.

Calma, leitor, não divago. Tão somente construo uma linha de raciocínio. Acompanhe-me, por favor. Di Caprio, em Ilha do Medo, é peça-chave de um quebra-cabeças ao qual o espectador é inserido logo no início da ação. Dito de outra forma, quando o filme começa, uma perseguição passa a ser empreendida. Aparentemente, dois detetives saem à cata de uma paciente que desapareceu dentro de uma instituição psiquiátricas. Naquele cenário, além das brumas, paira a suspeita de que os internos são submetidos a tratamentos contrários à sua vontade. O mistério é grande, mas, à medida que a trama se desenvolve, o publico aprende que o thriller que interessa não ocorre no plano da ação, mas, antes, na esfera psicológica, respeitando, assim, o texto original, assinado pelo escritor Dennis Lehane.

No que se refere à forma, Scorcese consegue dar ao filme um acabamento bastante articulado ao filme, reconstruindo, agora do ponto de vista imagético, as características algo sombrias da história. Nesse sentido, do cenário às locações, passando, ainda, pelo contexto, tudo remete ao espaço no tempo no qual a narrativa acontece. Desse modo, para além do texto, a audiência é, sim, envolvida pelo que vê. Já no tocante ao conteúdo, a mensagem da película não poderia ser mais contundente no que se refere àquilo que, muitas vezes, somos levados a crer, de acordo com nossos próprios fantasmas, medos e paranoias. Para quem não assistiu, não há como acabar com a surpresa. Ilha do Medo é desses filmes capazes de romper com a expectativa, mesmo quando se imagina que tudo já foi revelado. Eis um mérito do realizador, posto que não desfez o mistério central da história.