quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A América para os bandeirantes

Causou-me espécie o anúncio publicado na primeira página do caderno Ilustrada, da Folha de S.Paulo. Resumo da Ópera: um tradicional colégio de São Paulo, liceu da fina flor da elite paulistana (a Elite Branca, diria Claudio Lembo), manda avisar que "yes, nós preparamos para o SAT". O SAT, como sabem todos aqueles que já assistiram a um filminho yankee, é aquele exame comprobatório da capacidade dos alunos ingressarem no concorrido, disputado e sofisticado Sistema de Ensino Superior dos Estados Unidos. É uma espécie de ENEM, sem os vazamentos e com a garantia de que, uma vez tendo conquistado boas notas, o aluno tem a oportunidade de ingressar em respeitadas instituições de ensino dos EUA.

Em verdade, a opção pelo SAT, assim como as inúmeras oportunidades de intercâmbio que têm sido oferecidas pelas universidades particulares brasileiras, mostra que a preocupação com a grife educacional é, talvez, mais importante do que com a formação em si. Dito de outra maneira, agora que o ensino superior é, à sua maneira, uma espécie de commodity, não basta ingressar em instituições de ensino. É preciso que esta instituição ofereça algo mais do que a educação. E, nesse caso, se a formação vier com a chancela do USA, rá, a elite poderá esfregar na cara do andar de baixo: "Ei, enquanto seu diploma é da Uni-du-ni-tê, o meu é de uma Ivy League". Do ponto de vista prático: enquanto a Classe C ingressa no ensino superior para, quem sabe, conquistar uma vaga de trabalho como operador de telemarketing, os verdadeiros donos do poder seguirão no topo da pirâmide, não importando aqui com essa suposta ascensão social. É como se dissessem: "ok, vocês podem estudar, mas isso não vai mudar nada, ok? Nossa formação ainda é melhor. Quem diz é o próprio mercado". E, nesse jogo de cartas marcadas, já sabemos para onde a balança vai pender.

Mas, é claro, a todos aqueles que desejarem estudar no referido colégio, creio eu, não vão faltar oportunidades. Até porque, imagino, o processo deve ser democrático o bastante para deixar ingressar na escola todos aqueles que puderem financiar seus estudos. Não há almoço grátis, diria aquele simpático velhinho.