segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Somos todos Tiriricas?

A mídia reclama. Os intelectuais grasnam. A choldra se incomoda. A elite faz cara de nojo. Escolha o seu grupo, mas o inimigo do povo, hoje, atende pela alcunha de Tiririca, o cantor-humorista que, agora, quer ser Deputado Federal. Ninguém sabe muito bem por que. Nem mesmo ele, conforme se vê no Horário Eleitoral, parece ter certeza de seus ideiais. Aqui, talvez, eu esteja comtendo um engano: o único ideal de Tiririca é ser eleito para o cargo de Deputado Federal. E tome reprimenda. De todos os lados, há quem censure o dublê de político, suas vestimentas, sua retórica chula, sua fala infantil e seus maus hábitos. É como se, na protocidadania que é o Brasil, o Tiririca fosse um verdadeiro --- quiçá o único --- bestializado, alguém que desmascara o nosso jeito tosco de ser. E, num país cioso de suas (supostas) virtudes, ninguém quer ser feio, ser desafinado, destoar do discurso politicamente correto. Ninguém quer ser Tiririca. Ou, antes, ninguém quer que o Tiririca apareça por aí, extravasando nossas fissuras sociais e nossos instintos mais primitivos. Toscos, sim, mas sem perder a ternura. E o Tiririca, como diria meu amigo Marcos Lauro, perdeu toda a ternura.

Mas eu divago. Não quero, aqui, defender o Tiririca. Ele nem precisa. Ao que tudo indica, vai ser eleito com folga --- e o sistema político nacional é que precisa debater esse tipo de aberração eleitoral. O que chama a atenção é a reprimenda de todas as frentes que existe ao Tiririca. Evidentemente, o problema não é o Tiririca, mas a ideia do Tiririca. Concebem? Não? Eu explico. O problema é o Tiririca sair por aí, dando opiniões, mostrando a cara do Brasil que se esconde por trás da suposta Classe C. É a gente humilde da música de Vinícius de Moraes que quer brincar de ser Gordon Gekko, mas, de alguma maneira, está no meio do caminho do paraíso. Em síntese, há um temor de que tudo volte a ser esculhambado como antes, e o Tiririca é a lembrança de que jamais deixamos de ser o Bananão (salve, Ivan Lessa). O Brasil não conhece o Brazil. E o Tiririca é o ponto fora da curva que os números recentes do PNAD e de todas as pesquisas sobre desenvolvimento social e crescimento econômico não mostram. É a nossa face mais abjeta.

Tiririca, portanto, não peca pela sua gramática, ou por seu estilo; nem pelo conteúdo, tampouco pela forma. Tiririca peca porque expõe aos olhos de todos que ainda somos semianalfabetos; que estámos au-dessous da civilização; que a gente somos inútil. Tiririca está errado porque, ao aparecer no programa eleitoral gratuito como candidato a Deputado Federal, revelando sua ignorância acerca da coisa pública, reafirma que nós ainda não superamos. Ao fim e ao cabo, é como se ele perguntasse: somos todos Tiriricas?