quinta-feira, 24 de abril de 2008

Ah, essa falsa cultura

Amanhã, dia 25 de abril, este blog publicará um longo ensaio sobre a Virada Cultural, evento promovido pela Prefeitura de São Paulo. O evento, ao que parece, já conquistou corações e mentes por aí. Por aqui, ainda não. É por isso que o texto será publicado. Por ora, no entanto, seguem algumas considerações a respeito de certa inclinação dos tempos interessantes em que vivemos.

Sociedade do Espetáculo, Entretenimento, culto da aparência. Bento XVI, um dos grandes intelectuais vivos, deveria ter inscrito esses termos na Encíclica que anotava os novos pecados capitais. Dirão que este texto é de cunho religioso - e, portanto, direitista. Não é. Trata-se de uma ironia, apenas. Em verdade, deve-se dizer que, brincadeiras à parte, a picaretagem intelectual é uma das veleidades mais corriqueiras desse momentum.

Insatisfeitos com a atenção que recebem do colunismo social impresso e eletrônico, algumas celebridades e outros quase-famosos acotovelam-se, amiúde redes sociais e congêneres, loucos para parecer-ser. Sinal dos tempos: o patamar "classe média", como constatou a revista Veja outro dia, já não é mais privilégio das tradicionais classes A e B. Dessa forma, à medida que certo populacho ascende ao bem-estar promovido pelo consumismo (hoje até porteiros têm celulares G3 da claro), a antiga classe média deseja também subir de status. Como não consegue mais produtos de luxo com exclusividade, decidiu que, para si, o melhor mesmo é a máscara da ilustração - aka falsa cultura. E assim caminha a humanidade.

Na edição de hoje da Folha de S.Paulo, o jornalista Roberto Muylaert escreve que o presidente Lula, recentemente, soltou um en passant, todo garboso de sua própria pretensa erudição. O retrato falado da picaretagem intelectual é esse: nunca se soube tão pouco como agora; ainda assim, corre-se desesperadamente pelo desejo de status.