terça-feira, 15 de julho de 2008

Talvez porque perdoar seja mais difícil que amar

Complicado é falar de cinema e querer agradar a todos. Como maledicente não estou aqui pra isso, mas há pelo menos uma pessoa que eu gostaria que se sentisse lisonjeada com meu humilde texto.

Assisti ontem a pré-estréia do filme "Era uma vez...", do Breno Silveira. Admito que nunca fui fã da temática do primeiro filme do diretor, "Dois filhos de Francisco", mas a sensibilidade da trama e a forma como a história foi contada me tiraram do estado "vou odiar porque é sertanejo".

Em sua segunda obra, Breno conta uma história que seria duplamente clichê e eu explico o por que do "duplamente" mais a frente. Já li em diversas críticas expressões como "Romeu e Julieta", "menino do morro e menina do asfalto", entre outras. O enredo mostrado "com o coração" (como disse o próprio diretor em uma apresentação emocionada) tem tudo isso, mas não é clichê.

O filme conta a história de Dé (Thiago Martins), morador do Morro do Cantagalo, vendedor de cachorro-quente em um quiosque da praia de Ipanema e apaixonado por Nina (Vitória Frate), linda patricinha da Vieira Souto que lê Zuenir Ventura. Eles se apaixonam e têm que lidar, juntos ou separados, com o medo: com o medo de uma mãe que já perdeu um filho e não quer perder outro, com o medo de um pai que perdeu a esposa e quer o melhor para a única filha, com o medo de morrer por todos os lados; lidam com o preconceito e com a violência daqueles que outrora eram bons e também por medo mudaram de lado.


Posso dizer pouca coisa para não tornar esse post um spoiler, então digo que um final feliz seria um clichê simplesmente por ser um final feliz, um final trágico seria um clichê pela lógica dos filmes atuais não terem finais felizes. Mas talvez porque eu acredite que perdoar (superar, entender) é mais difícil que amar, eu acredito que Breno Silveira realmente entende de contar histórias com o coração.

Talvez eu devesse ter começado esse texto falando de coisas imperdoáveis, de situações que ficam impregnadas na alma e que nem todo amor do mundo pode apagar. Como quando um casal passa por algum problema, perdoa, mas no fundo um sempre culpa o outro por coisas que o consciente não percebe. O ser-humano É assim. Às vezes acha que nem liga para uma coisa, mas sente aquela raiva subliminar que pouco a pouco vai consumindo os sentimentos bons...

Depois de divagar volto para dizer que “Era uma vez...” vale a pena. A beleza não está somente na história, mas no cenário, na fotografia brilhante que comove até no trailer e na trilha sonora que conta com a participação de Marisa Monte – ao terminar o filme, se dê um tempo para não falar nada e apenas ouvir. Ver e ouvir, leitor. Talvez você se sinta tão cativado quanto eu.