terça-feira, 20 de julho de 2010

Jornalismo verdade?

No livro "Crítica e Verdade", o pensador francês Roland Barthes ensaia uma reflexão acerca da estrutura do faits divers. Segundo Barthes, um dos expoentes da semiótica e da crítica literária, a noção de cobertura séria para a cobertura de um crime, por exemplo, tem a ver com as personagens envolvidas. Se o morto, por exemplo, for um político, logo trata-se de um caso a ser tratado com certa envergadura e seriedade. De outro modo, se se trata de um crime com personagens desconhecidos, do cotidiano, logo tem-se o faits divers. Em certa medida, podemos interpretar o caso Bruno e a cobertura que a mídia tem feito a respeito a partir dessa perspectiva.

Da revista Veja à Folha de S.Paulo, passando pelo Estadão, IstoÉ e Época, a mídia tem se refestelado com as denúncias, com as declarações estridentes dos envolvidos, com a inépcia dos comentaristas e analistas e, evidentemente, com a comoção da opinião pública. De tudo isso, o que mais chama a atenção no caso é o fato de que a imprensa parece cometer os mesmos erros de casos semelhantes. Em outras palavras, e pela ordem: acusa antes de ter a certeza de que o sujeito é culpado; faz análises absolutamente descabidas; e alimenta o circo do desespero aludindo aos instintos mais do que primitivos dos leitores, telespectadores e internautas.

Diante desse cenário, o que fazer? Ora, não há muitas opções, a não ser observar atentamente na maneira como a imprensa vai tentar construir uma verdade em cima do caso. Nesse aspecto, existe a tendência por parte dos veículos de elaborar uma narrativa, uma história com potencial de ser interpretada, digerida e abraçada pelo telespectador/leitor/ouvinte. Tal construção se fundamenta no desejo de o público estar mais informado. Como boa parte desse público é incapaz de pensar com a própria cabeça, cumpre aos veículos vender uma verdade, ainda que seja nada mais do que uma versão. Observem, nesse ponto, que os jornais abusam dos infográficos, dos textos didáticos e da utilização de apelo emocional, ora apresentando o sofrimento da família, ora demonizando o goleiro e seus asseclas. Tudo isso antes de o julgamento acontecer.

Se efetivamente for condenado, a versão terá encontrado um final feliz à história perpetrada pela mídia. Do contrário, a tendência é o jornais mudarem o foco da cobertura, numa jogada que vai se assemelhar ao caso Paola Oliveira. Mas quem se lembrará desse deslize da imprensa?