quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Wall Street - o dinheiro nunca dorme

Oliver Stone é daqueles cineastas cujo nome nem sempre estará associado ao consenso. De um lado e de outro, público, crítica e até mesmo realizadores se dividem em torno da obra desse autor. Haverá quem diga que seus filmes pecam por exagerar no conteúdo político, deixando de se preocupar com os aspectos fílmicos. Em contrapartida, outros tantos salientam que os filmes de Stone merecem status de obra de arte, uma vez que é capaz de executar, com primazia, recursos vários em torno da narrativa. Nesse sentido, é inegável tratar da obra de Stone sem tomar um lado, especialmente quando o autor envereda por uma temática política. É o que o diretor fez no seu mais recente filme, "Wall Street - o dinheiro nunca dorme".

A fita é, como se sabe, continuação daquela outra, de 1987. Voltemos um pouco no tempo e no espaço. Os anos 1980, sacralizados no imaginário social, como a década perdida, tinha seu modelo de herói. Não se trata, aqui, dos seres dotados de poderes extraordinários, ou mesmo de homens que salvavam a nação, com moral elevada. O herói em questão é o modelo de sucesso da classe média estabelecida. Em "Wall Street - poder e cobiça", ele se personificava em Gordon Gekko, vivido por Michael Douglas no auge da forma. Como todo herói, ele professava um credo: "greed is good". Sim, a ganância é, com efeito, uma coisa boa. A felicidade não estava nas realizações que se podiam fazer para o outro; antes, residia na capacidade de acumular riqueza, assumindo o capitalismo não apenas como risco, mas como estilo de vida. A propaganda do cartão de crédito diria: para todas as outras coisas nós temos...

Em 2010, o cenário é certamente outro. Ninguém, em sã consciência, louvará em público que a ganância é boa. Somos recalcados demais para tanto. O bom, agora, é buscar a responsabilidade social, na cultura, no cotidiano, no banco. O anúncio publicitário diz: "nem parece que é banco". E nós, numa espécie de auto-engano, dizemos "tudo bem". Agora, o zeitgest estabelece: é preciso ser bom, não ganancioso ou competente, mas bom. Por isso, nossos preconceitos menos valorosos ou, pior, nossos instintos mais primitivos ficam escondidos. Em "Wall Street - o dinheiro nunca dorme", aprendemos que, agora, os bandidos não apenas são os financistas de Wall Street, mas, também, todos aqueles que decidem embarcar na aventura dos juros e da especulação. E, como diz um Gekko mais envelhecido, mas ainda assim bastante perspicaz: "a ganância não apenas é boa, mas é legal". Não encaramos que o que estamos fazendo esteja errado. Apenas fazemos, e não pensamos em nada.

A mensagem possível é: nesse mundo amoral, cuja moral é provisória (ou líquida), não basta apenas buscar os culpados. Se o objetivo, de fato, é mudar de estilo de vida, vai depender não somente do sistema, mas da mudança de comportamento. Consumistas como somos, talvez seja tarde para isso. É, a ganância é boa. Só não sabíamos que é viciante. E que seus efeitos são deletérios.